Na cidade de Paris, em meados do século dezanove, o médico Jean-Jacques Gaspar Itard, levou para a sua residência (com autorização judicial), um menino com a aparência de uma criança de seis a oito anos de idade, capturado no mato, onde teria sido abandonado ainda recém-nascido, que andava como um quadrúpede, surdo e mudo, com órgãos pouco flexíveis e a sensibilidade embotada, e posturas animalescas. A criança não se interessava por nada e a sua expressão facial não apresentava nem transmitia qualquer tipo de sensibilidade. Ou seja, quando foi encontrado, toda a sua existência se restringia a uma vida meramente animal.
Pensa-se que o menino selvagem tenha sido abandonado no bosque quando tinha quatro ou cinco anos (altura da vida em que o cérebro possui mais plasticidade, havendo uma maior facilidade de aprendizagem, socialização e interiorização dos comportamentos característicos da cultura). Nessa altura já deveria ter conhecimentos de algumas ideias e palavras, visto que este período coincidiria com o começo da sua educação. Contudo, há quem pense que tudo isso se lhe teria apagada da memória devido a aproximadamente sete anos de isolamento.
Ao decidir cuidar de Victor, o médico trataria de educá-lo, tendo o tornado objecto de investigações científicas, tendo em conta que o menino não possuía qualquer tipo de noções sociais. Durante três anos, o médico Itard observou cuidadosamente Victor no meio social onde se encontrava agora uma vez recolhido para a residência.
A tentativa de integração do menino selvagem no mundo social não foi fácil, pois não estando habituado a não se encontrar regido e restringido por normas e deveres morais, teve vontade de voltar para o bosque, o que se confirmou pela sua tentativa inicial de fuga.
Durante o processo de aprendizagem facultado por Itard, o menino aprendeu a pronunciar o “ô”, tendo o seu nome Victor decorrido desta aprendizagem e o seu sobrenome d’Aveyron, decorrido região onde fora encontrado abandonado. Esta pronúncia do “ô” foi uma grande evolução tendo em consideração o seu estado inicial. O menino também pronunciar a palavra “lait” (leite em francês) e até mesmo escrevê-la.
Ainda conseguiu aprender também a desenvolver afectividade, tornar-se sensível às temperaturas extremas, tendo espirrado e chorado pela primeira vez. Notou-se uma relação entre a evolução do afecto e da aprendizagem, ou seja, consoante a afectividade foi evoluindo e melhorando entre Victor, Itard ou a Mme. Guérin (empregada do médico Itard), a aprendizagem ia-se tornando-a mais fácil.
Conclusivamente é possível resumir que a educação de Victor teve um desenvolvimento lento e ficou incompleta. A sensibilidade do sistema auditivo foi um dos factores que mais dificultou o processo de aprendizagem. O seu prazer pela liberdade dos campos foi insignificante em comparação à sua indiferença e desinteresse pelos aspectos positivos da vida em sociedade. De facto, o lado afectivo foi aquele que mais sobressaiu nesta experiência, pois, Victor mostrou-se reconhecido pelos cuidados proporcionados, além de demonstrar agrado quando fazia as coisas de forma correcta, sentindo vergonha quando errava arrependendo-se se das suas irritações.
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